Entrevista: Claudia Melli de Orléans e Bragança
Por Pedro Henrique de Sousa
Como está sendo para você o isolamento social? Beneficia a introspecção que aprofunda seu diálogo com o trabalho?
Claudia Melli: Eu estou levando o isolamento social muito a sério, saio apenas para o essencial. O fato de estarmos fazendo a quarentena em casa, meu marido e eu, mudou a minha rotina de trabalho. Paradoxalmente, não tenho mais as horas de isolamento que eu tinha no ateliê já que estamos sempre os dois em casa.
A introspecção só é possível quando estamos disponíveis para ela, com tempo e com um bom nível de concentração.
O momento é de estar atento aos acontecimentos do nosso tempo, quero vivenciar essa transição entre o antes e o depois da pandemia estando muito presente aos acontecimentos de cada dia, estando atenta e ativa às necessidades e demandas reais desse período, para mim ainda não é momento de me concentrar em meu trabalho pessoal, isolada no ateliê. Esse dia vai chegar.
Além do mais estou tendo que me dedicar a cozinhar (adorando e cozinhando maravilhosamente), aos cuidados da minha casa, marido, pessoas próximas, minha filha e minha mãe, embora cada um na sua casa tento me manter presente como é possível e ajudá-las no que precisam. Também faço parte de um projeto para abastecimento de máscaras na comunidade da Rocinha. Esses são os motivos das minhas escapadas, sempre de máscara.
Você fica presa ao ateliê ou faz contato com a natureza que inspira o seu trabalho?
CM: O meu ateliê é cercado pela mata do Jardim Botânico onde corre um rio lindo bem no jardim. Estar no ateliê é estar na natureza.
Na minha casa tenho a mesma situação, sou cercada por água para todos os lados, eu moro tão próxima ao mar quanto é possível, no Arpoador.
Por um ângulo privilegiado acompanho o movimento das nuvens, vejo a chuva chegar, se dissipar. Vejo o sol nascer e o sol se pôr, percebo as mudanças de luz das estações, a influência das fases da lua nas marés... Tenho a sorte de estar sempre em contato com a natureza
O Brasil parece ser seu interesse maior. O que chama mais a sua atenção na nossa natureza, a flora, a fauna ou as gentes?
CM: Meu interesse é nos ciclos de todas as coisas, nos ciclos da natureza, das águas, das marés, do oxigênio, no ciclo da vida e morte, na conexão entre todas as coisas. Como um ato humano ou da própria natureza cria uma corrente de consequências afetando infinitamente todas as outras. Nada está em separado, somos todos parte de um organismo vivo e em movimento.
Ao escolher um tema o que define a técnica que usará para interpretá-lo?
CM: A minha técnica fica entre o desenho e a pintura, faço pouquíssimo uso das cores, uso-as apenas quando são elas mesmas o assunto. Como na série Todo Silêncio, onde precisei usar um azul muito específico para passar a sensação da passagem de luz entre o dia e a noite.
Gosto de usar nanquim e grafite, mas eventualmente posso usar tinta ou carvão. Como suporte tenho feito uso do vidro, papel, poliéster.
Qual é a sua relação com instalações como os três frascos de vidro diante de uma tela, como aquele que você postou no seu Instagram?
CM: Eu tinha uma exposição programada no Sesc, seria uma instalação onde usaria águas verdes em garrafas, centenas delas, veremos quando será.
Em que a sua vida no mundo da realeza influenciou sua obra?
CM: Em nada.
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